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  — Cuco do Minho, cuco da Beira: quantos anos me dás de solteira?

  A rapariga era toda ela de se comer. E o cuco, maroto, olhou de lá, viu, e respondeu:

  — Cucu… Cucu… Cucu…

  Três anos! A moça ficou varada. O Rodrigo acabava a tropa de aí a dias, e prometera levá-la à igreja logo a seguir. Que significava, pois, semelhante demora? Aflita, chegou-se à Isaura, a alcoviteira, mouca como um soco, que a seu lado sachava milho, e gritou-lhe aos ouvidos, desesperada:

  — Ora vê?! Que lhe dizia eu?

  A Isaura nem queria acreditar.

  — Ouvirias mal!…

  — Olhe lá que não ouvisse! Contei-os bem.

  E foi então que Farrusco soltou a sua primeira gargalhada. Coisa bonita! Uma cascata de semicolcheias escaroladas, como se alguém rasgasse um pano cru, rijo e comprido, no silêncio da tarde serena, que o desânimo de Clara enchera sùbitamente de melancolia. Nada mais do que isso. Mas o bastante para mudar o sinal do desencanto. A força virgem daquele riso chamou a vida à consciência dos seus direitos. De parada, a natureza animou-se. Uma aragem muito branda e muito fresca atravessou o espaço. Tudo quanto era mundo vegetal ondulou levemente. A própria terra, sonolenta do calor do dia, acordou. E de aí a segundos começou a maior sinfonia que se ouviu no Lenteiro.

  Chamadas por aquela volatina, as rãs subiram à tona de água e puseram-se a dar força sonora às tímidas vozes ocultas e anónimas que se erguiam do limbo. As rãs, juntaram-se logo, pressurosos, os ralos, as cegarregas, os grilos, e quanta arraia miúda tinha fala. A esta, a passarada. Até que não ficou bicho sensível e solidário alheio ao Tantum Ergo pagão. Um coro imenso, cósmico e fraterno, que enchia o mundo de confiança.

  Clara, arrastada pela onda de harmonia, apelou da sentença:

  — Cuco do Minho, cuco da Beira: quantos anos me dás de solteira?

  O que foste fazer! O malandro do pitoniso, se há pouco fora cruel, desta vez requintou.

  — Cucu… Cucu… Cucu… Cucu…

  Parecia uma ladainha! A lengalenga não parava mais. Ou de propósito, ou porque o mundo, naquele instante, era um orfeão aberto, o ladrão dava mais anos de solteira à rapariga do que estrelas tem o céu.

  Desapontada, a cachopa regressou às ervas daninhas do lameiro. E, num amuo justificado, deixou correr as horas. A seu lado, comprometida, a Isaura, que tinha garantido o noivado a curto prazo, falava, falava, sem conseguir adoçar-lhe no espírito o fel da desilusão. E quando a noite se aproximou, disposta a selar com negrura aquela tristeza humana, foi preciso que Farrusco, novamente solidário com os direitos da moça, saltasse da espessura da sebe para o cimo de um estacão, e fizesse ressoar pelo céu parado e quente uma segunda gargalhada. Discordância de tal maneira fresca, sadia, prometedora, que a rapariga ganhou ânimo. Pôs os olhos em si, na força criadora das margaridas abonadas, no ar de coisa sã que toda ela ressumava, e sorriu. Depois, confiante, juntou a sua alegria à alegria do melro. Soltou então também uma risada cristalina, que partiu da verdura do milhão, passou pelas penas luzidias de Farrusco, e foi bater como um castigo no ouvido desafinado do cuco. Um segundo a natureza esteve suspensa daquela gargalhada. A vida homenageava a vida. Depois continuou tudo a cantar.

  — O estafermo do cuco, tia Isaura! Até um melro se riu!…

  — Riem-se de tudo, esses diabos…

  Mas o lusco-fusco começava a empoeirar o céu, e Farrusco ia fechando docemente os olhos, deitado na cama dura. A vida que lhe ensinara a mãe, simples, honesta, espartana, não lhe consentia luxos de noitadas. Pela manhã, ainda o sol vinha lá para Galegos, já ele tinha de estar de perna à vela, pronto para comer a bicharada da veiga, e rir de novo, se alguma tola de Vilar de Celas se fiasse outra vez no aldrabão do cuco.

  MIURA

  Fez um esforço. Embora ardesse numa chama de fúria, tentou refrear os nervos e medir com a calma possível a situação.

  Estava, pois, encurralado, impedido de dar um passo, à espera de que lhe chegasse a vez! Um ser livre e natural, um toiro nado e criado na lezíria ribatejana, de gaiola como um passarinho, condenado a divertir a multidão!

  Irreprimível, uma onda de calor tapou-lhe o entendimento por um segundo. O corpo, inchado de raiva, empurrou as paredes do cubículo, num desespero de Sansão.

  Nada. Os muros eram resistentes, à prova de quanta força e quanta justa indignação pudesse haver. Os homens, só assim: ou montados em cavalos velozes e defendidos por arame farpado, ou com sebes de cimento armado entre eles e a razão dos mais…

  Palmas e música lá fora. O Malhado dava gozo às senhorias…

  Um frémito de revolta arrepiou-lhe o pêlo. Dali a nada, ele. Ele, Miura, o rei da campina!

  A multidão calou-se. Começou a ouvir-se, sedante, nostálgico, o som grosso e pacífico das chocas.

  A planície!… O descampado infinito, loiro de sol e trigo… O ilimitado redil das noites luarentas, com bocas mudas, limpas, a ruminar o tempo… A fornalha escaldante, sedenta, desesperante, que o estrídulo das cegarregas levava ao rubro.

  Novamente o silêncio. Depois, ao lado, passos incertos de quem entra vencido e humilhado no primeiro buraco…

  Refrescou as ventas com a língua húmida e tentou regressar ao paraíso perdido.

  A planície…

  Um som fino de corneta.

  Estremeceu. Seria agora? Teria chegado, enfim, a sua vez?

  Não chegara. Foi a porta da esquerda que se abriu, e o rugido soturno que veio a seguir era do Bronco.

  Sem querer, cresceu outra vez quanto pôde para as paredes estreitas do cárcere. Mas a indignação e os músculos deram em pedra fria.

  A planície… O bebedoiro da Terra-Velha, fresco, com água limpa a espelhar os olhos…

  Assobios.

  O Bronco não fazia bem o papel…

  Um toque estranho, triste, calou a praça e rarefez o curro.

  Rápida e vaga, a sombra do companheiro passou-lhe pela vista turva. Apertou-se-lhe o coração. Que seria?

  Palmas, música, gritos.

  Um largo espaço assim, com o mundo inteiro a vibrar para além da prisão. Algum tempo depois, novamente o silêncio e novamente as notas lúgubres do clarim.

  Todo inteiro a escutar o dobre a finados, abrasado de não sabia que lume, Miura tentava em vão encontrar no instinto confuso o destino do amigo.

  Sùbitamente, abriu-se-lhe sobre o dorso um alçapão, e uma ferroada fina, funda, entrou-lhe na carne viva. Cerrou os dentes, e arqueou-se, num ímpeto.

  Desgraçadamente, não podia nada. O senhor homem sabia bem quando e como as fazia. Mas por que razão o espetava daquela maneira?

  Três pancadas secas na porta, um rumor de tranca que cede, uma fresta que se alargou, deram-lhe num relance a explicação do enigma da agressão: chegara a sua vez.

  Nova picada no lombo.

  — Miura! Cornudo!

  Dum salto todo muscular, quase de voo, estava na arena.

  Pronto!

  A tremer como varas verdes, de cólera e de angústia, olhou à volta. Um tapume redondo e, do lado de lá, gente, gente, sem acabar.

  Com a pata nervosa escarvou a areia do chão. Um calor de bosta macia correu-lhe pelo rego do servidoiro. Urinou sem querer.

  Gritos da multidão.

  Que papel ia representar? Que se pedia do seu ódio?

  Hesitante, um tipo magro, doirado, entrou no redondel.

  Olhou-o a frio. Que força traria no rosto mirrado, nas mãos amarelas, para se atrever assim a transpor a barreira?

  A figura franzina avançou.

  Admirado, Miura olhava aquela fragilidade de dois pés. Olhava-a sem pestanejar, olímpica e ansiosamente.

  Com ar de quem joga a vida, o manequim de lantejoulas caminhava sempre. E, quando Miura o tinha já à distância dum arranco, e ainda sem compreender olhava um tal heroísmo, enfatuadamente, o outro bateu o pé direito no chão e gritou:

  — Eh! boi! Eh! toiro!

  A multidão dava palmas.

  — Eh! boi! Eh! toiro!

  Tinha de ser. J
á que desejavam tão ardentemente o fruto da sua fúria, ei-lo.

  Mas o homem que visou, que atacou de frente, cheio de lealdade; inesperadamente transfigurou-se na confusão de uma nuvem vermelha, onde o ímpeto das hastes aguçadas se quebrou desiludido.

  Cego daquele ludíbrio, tornou a avançar. E foi uma torrente de energia ofendida que se pôs em movimento.

  Infelizmente, o fantasma, que aparecia e desaparecia no mesmo instante, escondera-se covardemente de novo por detrás da mancha atordoadora. Os cornos ávidos, angustiados, deram em cor.

  Mais palmas ao dançarino.

  Parou. Assim nada o poderia salvar. A suprema humilhação de estar ali, juntava-se o escárnio de andar a marrar em sombras. Não. Era preciso ver calmamente. Que a sua raiva atingisse ao menos o alvo.

  O espectro doirado lá estava sempre. Pequenino, com ar de troça, olhava-o como se olhasse um brinquedo inofensivo.

  Silêncio.

  Esperou. O homem ia desafiá-lo certamente outra vez.

  Tal e qual. Inteiramente confiado, senhor de si, veio vindo, veio vindo, até lhe não poder sair do domínio dos chifres.

  Agora!

  De novo, porém, a nuvem vermelha apareceu. E de novo Miura gastou nela a explosão da sua dor.

  Palmas, gritos.

  Desesperado, tornou a escarvar o chão, agora com as patas e com os galhos. O homem!

  Mas o inimigo não desistia. Talvez para exaltar a própria vaidade, aparentava dar-lhe mais oportunidades. Lá vinha todo empertigado, a apontar dois pequenos paus coloridos, e a gritar como há pouco:

  — Eh! toiro! Eh boi!

  Sem lhe dar tempo, com quanta alma pôde, lançou-se-lhe à figura, disposto a tudo.

  Não trouxesse ele o pano mágico, e veríamos!

  Não trazia. E, por isso, quando se encontraram e o outro lhe pregou no cachaço, fundas, dolorosas, as duas farpas que erguia nas mãos, tinha-lhe o corno direito enterrado na fundura da barriga mole.

  Gritos e relâmpagos escarlates de todos os lados.

  Passada a bruma que se lhe fez nos olhos, relanceou a vista pela plateia. Então?!

  Como não recebeu qualquer resposta, desceu solitário à consciência do seu martírio. Lá levavam o moribundo em braços, e lá saltava na arena outro farsante doirado.

  Esperou. Se vinha sem a capa enfeitiçada, sem o diabólico farrapo que o cegava e lhe perturbava o entendimento, morria.

  Mas o outro estava escudado.

  Apesar disso, avançou. Avançou e bateu, como sempre, em algodão.

  Voltou à carga.

  O corpo fino do toureiro, porém, fugia-lhe por artes infernais.

  Protestos da assistência.

  Avançou de novo. Os olhos já lhe doíam e a cabeça já lhe andava à roda.

  Humilhado, com o sangue a ferver-lhe nas veias, escarvou a areia mais uma vez, urinou e roncou, num sofrimento sem limites. Miura, joguete nas mãos dum Zé-Ninguém!

  Num ímpeto, sem dar tempo ao inimigo, caiu sobre ele. Mas quê! Como um gamo, o miserável saltava a vedação.

  Desesperado, espetou os chifres na tábua dura, em direcção à barriga do fugitivo, que arquejava ainda do outro lado. Sangue e suor corriam-lhe pelo lombo abaixo.

  Ouviu uma voz que o chamava. Quem seria? Voltou-se. Mas era um novo palhaço, que trazia também a nuvem, agora pequena e triangular.

  Mesmo assim, quase sem tino e a saber que era em vão que avançava, avançou.

  Deu, como sempre na miragem enganadora.

  Renovou a investida. Iludido, outra vez.

  Parou. Mas não acabaria aquele martírio? Não haveria remédio para semelhante mortificação?

  Num último esforço, avançou quatro vezes. Nada. Apenas palmas ao actor.

  Quando? Quando chegaria o fim de semelhante tormento?

  Sùbitamente, o adversário estendeu-lhe diante dos olhos congestionados o brilho frio dum estoque.

  Quê?! Pois poderia morrer ali, no próprio sítio da sua humilhação?! Os homens tinham dessas generosidades?!

  Calada, a lâmina oferecia-se inteira.

  Calmamente, num domínio perfeito de si, Miura fitou-a bem. Depois, numa arremetida que parecia ainda de luta e era de submissão, entregou o pescoço vencido ao alívio daquele gume.

  O SENHOR NICOLAU

  O pai queria fazer dele um homem. Por isso, mal o pequeno acabou a 4.ª classe em Pedornelo, Guimarães com ele!

  Mas não havia padre Macário capaz de endireitar semelhante criatura. Nem a puxões de orelhas e a golpes de régua se conseguia evitar que o rapaz saltasse a toda a hora pelas janelas do colégio e desaparecesse pelas serras a cabo, aos grilos. Trazia já o vício da terra; mas, com a idade, em vez de a coisa melhorar, piorava.

  De palha na mão, era vê-lo à torreira do sol. Metia a sonda em cada agulheiro que encontrava, punha-se a esgravatar, a esgravatar, e o pobre do habitante do buraco não tinha outro remédio senão vir à tona.

  S8 quando o estômago dava horas das grandes regressava a casa com vinte ou trinta bichos daqueles. O reitor mandava-o ir ao gabinete, punha-lhe a cara num pimentão, mas de pouco valia. No dia seguinte, lá fugia ele outra vez.

  Tinha o quarto transformado em viveiro. Em vez de retratos de actrizes e de cowboys, gaiolas de todos os tamanhos dependuradas nas paredes, com folhas de alface e de serradela metidas nas grades. E era num tal cenário que o prefeito o encontrava — quando o encontrava -, abstracto, alheado, fora do muno.

  — A lição?

  — Estou a estudá-la…

  Na aula a seguir é que a coisa se via: um estenderete!

  Contudo, como inexplicàvelmente na cadeira do Dr. Rodrigues só tirava vintes, e o professor gozava de grande prestígio entre os colegas, ano sim, ano não, lá passava. A nota de Zoologia podia muito. E os outros mestres, apertados, davam o 10 e desabafavam

  — Vá lá… Como sabe tanto de grilos…

  No fim do curso do liceu, Coimbra. Para médico. O pai sonhava com ele em Pedornelo a curar maleitas.

  Mas quando, ao cabo de seis anos, o velho julgava que tinha ali o Paracelso dos Paracelsos, a folha corrida do rapaz registava apenas uma enigmática distinção em ciéncias naturais e reprovações no resto.

  Deus não quis, todavia, matar o santo homem com a punhalada duma desilusão. Nas vésperas de o cábula regressar, mandou-lhe piedosamente uma bronco-pneumonia, que o levou desta para melhor, juntamente com as esperanças que depositara no filho.

  E foi assim, herdeiro das ricas terras do pai, e com a Arca de Noé sabida de cabo a rabo, que o Sr. Nicolau voltou definitivamente a Pedornelo.

  Andava então pelos trinta anos. Alto, seco, pálido, delicado, veio pôr— na veiga e nos montes da terra uma nota que até ali não havia: a mancha lírica dum cidadão de guarda-sol branco a caçar bicharocos.

  — O Sr. Nicolau passou bem?

  — Bem, muito obrigado, tio Armindo…

  E abaixava-se a agarrar uma louva-a-deus. Tirava um frasco do bolso, pegava na infeliz com mil cuidados, não lhe fosse quebrar um braço, e bojo do vidro com ela.

  A princípio, todos arregalaram os olhos, num justo e deçconfiado espanto. No que dera o filho do Sr. Adriano Gomes! Mas apenas lhes arrendou, por umas cascas de alho, os bens de que passara a ser dono, e o viram contente com a transacção, mudaram de ideias e puseram-se a vender-lhe quantos insectos havia nas redondezas. Bastava chegar ao pé dele e mostrar-lhe uma joaninha, para que a comprasse logo por um tostão. De modo que semelhante maluqueira era uma mina, vista por qualquer lado.

  Só o mestre-er rola, o velho Sr. Anselmo, que já na instrução primária se vira e desejara para meter naquela cabeça tonta as contas de multiplicar, se mostrava renitente na aceitação de tão grande desgraça. E, quando acabou por dar o braço a torcer, foi desta maneira

  — Enfim, do mal o menos. Se lhe dá para coleccionar burros, tínhamos a aldeia transformada numa estrebaria…

  Mas o Sr. Nicolau resistia a tudo. As ironias do antigo professor e ao egoísmo do povo. E, mal o sol apontava na serra de Alijó, lá ia ele pe
los restolhos fora.

  Vivia sòzinho. Além da Gertrudes, que vinha de vez em quando lavar-lhe a roupa e fazer-lhe um caldo, ninguém mais lhe entrava em casa, a não ser pelo S. Miguel, na altura do pagamento das rendas. Viam-no então no escritório, entre grandes armários, onde, desde as pulgas às carochas, dormiam o sono eterno quantos seres a sua paciência e os seus vinténs conseguiram agarrar em Pedornelo e cercanias.

  Tinha-os em caixas de papelão, aos centos, em fila, catalogados e suspensos num alfinete que lhes entrava nas costas e saía na barriga. Havia-os de todos os tamanhos e de todas as cores possíveis. Grandes, pequenos, pequeninos, amarelos, brancos, pretos, azuis, vermelhos, um ou dois de cada qualidade e de quantas qualidades fora capaz a imaginação divina.

  Calmamente, amorosamente, à medida que o tempo andava, crescia o cemitério. E, calmamente, o coveiro, o Sr. Nicolau, ia envelhecendo entre os mortos.

  O seu mundo fechara-se ali, concêntrico, sem horizontes, murado pelas estantes envidraçadas, onde o sonho se conservava em naftalína. As nações desabavam, sucediam-se guerras, a própria aldeia oscilava nos gonzos. Mas o senhor Nicolau, alheio às paixões humanas, continuava a povoar os dias de libélulas e borboletas.

  A certa altura, o boateiro do Fagundes lançou a atoarda do próximo casamento do lunático.

  — E com quem? -perguntou o professor, carregado de inocência.

  Mas como ninguém lhe soube dizer o nome da noiva, rematou ele

  — Talvez com alguma lesma… E bem é. Fica tudo em família.

  A balela foi por assim dizer o derradeiro sinal que Pedornelo deu de que não se esquecera inteiramente da vida social do Sr. Nicolau. Porque, apenas o. mestre disse a ironia, e todos acabaram de — se rir à vontade, o desgraçado sasu da lembrança da povoação. Logo á seguir, quando passavam, ou já nem o cumprimentavam, ou lhe davam os bons-dias com o mesmo automatismo com que tiravam o chapéu, às Trindades. Nem que ele atravessasse o largo com uma ruga funda e desesperada na testa, se lembravam de o lamentar. O nome do amalucado; agora, significava o mesmo que carrapato, ralo, formiga ou coisa assim.